sábado, 30 de julho de 2022

Ornamentar

Tenho sido bordada pelas mãos hábeis do infinito
este corpo, só é um verso no limbo
em todas as realidades que me jogo
sou um expressão do quebra-mundos
estou destinada a partir visões consolidadas
minha existência não se apega a realidades
me abraço a ideia que nasci para quebrar coisas
falo de formas sutis sobre o que esta para desaparecer
minha poesia é profecia de uma ruptura que está para ocorrer





segunda-feira, 28 de março de 2022

Sem título, Ato V

 


Obcecada pela princesa que salvou a si mesma em outras páginas

Voltou a flertar com a poesia 

como uma amante insaciável que tem fome e ansia 

por ser preenchida por inteiro 



quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Cheiro de papel e tinra


Aprendeu a acreditar em fadas 
e falar com os animais 
quando se percebeu incrível demais 
para ser suprimida em um mundo tão seco e cinza

Fez desejos as estrelas cadentes 
provou do pão élfico
atravessou labirintos e galáxias 
a cada vez que movia um marca página 

Se deslocando no infinito espaço tempo
contido dentro de um livro
Cavalgava cometas
e hasteava bandeiras piratas, rindo como criança

E novamente, novamente, novamente
perdida e encontrada nas linhas de uma narrativa
virou guerreira, vampira, bruxa e às vezes, só uma menina
uma metamorfose ambulante alimentada por pontos e linhas

Do início ao fim
do parágrafo que abre o capítulo a palavra que o finda
lá de volta, ela ia novamente, novamente, novamente
no mesmo lugar em que se encontram todos os Era Uma Vez....



terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Sem título, ato IV



E na imensidão de possibilidades do existir, 

escolhi ser tal como pena que flutua viajando através do vento

Fazendo na brisa minha estrada

Me nutrindo do momento como passagem

Respirando na arte como meu contentamento.

Retoque

Pendure sua alma no varal 
deixe o sol tirar o mofo dessa colcha de retalhos lastimável 
que se tornou seu espírito 

Varra de dentro para fora todas as omissões e medos 
que insiste em acumular pelos cantos mal limpos dos seus pensamentos
é preciso arejar

Acenda um incenso 
ou banhe em águas correntes.
Purifique

A carapaça da mesquinhez que cobre essa edificação que és 
deixou de ser só uma camada fina de pó a tempos
Deixa verter, deixa lavar 

Refine os pontos com os quais pretende fechar esses buracos em si
preencher com algodão reutilizado não irá ocultar suas fraquezas mais
É hora de trocar  o tecido desbotado das suas aspirações
por um pano mais resistente, mais adequado 

Ainda é tempo de lixar as paredes
aplicar uma demão, arrematar sua superfície 
Quem sabe um rabisco aqui e ali... 
Um pouco de cor alegra qualquer ambiente

Você é uma pessoa envelhecida, aceite isso
Mas não deixe se cobrir com um bom ladrilho 
porque há um remendo aqui e ali 

É tempo de preencher suas rachaduras com ouro
as fundações ainda são fortes 
e sua alma ainda habita aqui.  




Afetos advertidos





Tenho aversão a essa gente que não sente nada

Não se apaixona,
não se liga a algo ou alguém
Não demonstra e não sente falta
Rejeita as saudades, empurra os afetos
Nega sensações e emoções
Pessoas numa eterna competição pela neutralidade.

Gente que não tenta, não propõe
Tampouco se envolve
Não se arrisca e jamais se entrega
Gente que, erroneamente, parece planta,
Não se move, não fala, não discorda
Mas mesmo elas, as plantinhas, amigo
Ah! Elas sentem.
Murcham quando são descuidadas,
Se impõe rumo ao sol em busca de luz e calor
Com esmero, elas embelezam e se fortalecem

Gente que nada ama me dá nos nervos
Que exalta desapego como um baluarte
Quando, na real, tem medo
Medo de amar algo ou alguém
Da tentativa, da formulação do sonho
Do relacionamento ao tesão que nega
Gente que não pira nem inspira
Não late e nem morde
Gente que não vive, só respira e mal mal.


Sem título, ato III





 Fui em busca de asas

Porque o solo não é suficiente
Anseio ir além
Anseio voar